Três jovens designers brasileiros recém-formados estão entre os vencedores do iF Design Student Award 2025, uma das mais prestigiadas premiações internacionais voltadas ao design estudantil. Os projetos reconhecidos internacionalmente são os trabalhos de conclusão de curso (TCC) de Nayany Ferreira Bastos (UTFPR), Jésia Vunschel Gualter (IFSul) e Fabrício Luiz Silveira Teixeira (UEMG), que abordam temas sociais, culturais e educativos com criatividade e impacto.
A cerimônia de premiação acontece no próximo dia 20 de junho, no Museu Guggenheim em Bilbao, na Espanha, e celebra ideias inovadoras de jovens talentos que usam o design como ferramenta para transformar realidades.
Nesta edição, o prêmio alcançou um recorde histórico de participação, com mais de 7 mil projetos inscritos por estudantes de 74 países. Dentre eles, 100 propostas inovadoras de 23 nações foram selecionadas e premiadas — todas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Promovido pela iF Design Foundation, da Alemanha, o prêmio busca destacar soluções criativas para desafios globais a partir de critérios como inovação, viabilidade, relevância social, impacto ético e potencial de transformação.
Os projetos brasileiros premiados em 2025 se destacaram pelo forte compromisso com a inclusão, a educação e a valorização do patrimônio cultural. Selecionados entre milhares de propostas, e após passarem por uma triagem que levou 300 finalistas à etapa final, os trabalhos mostram como o design pode ser agente de mudança, atuando em realidades diversas com propósito e responsabilidade.
Além da premiação, os vencedores terão a chance de participar de uma intensa programação de dois dias organizada pela iF Design e pela EIDE Basque Design, com visitas a universidades e centros criativos, workshops e eventos de networking.
Conheça os premiados:
Aulas Cria! O design&arte na favela de São Gonçalo
Desenvolvido pela designer gráfica Nayany Ferreira Bastos, o projeto é uma revista-manifesto que transforma o design em um instrumento de visibilidade para talentos das favelas de São Gonçalo (RJ). O trabalho foi resultado do TCC de Nayany, que foi orientado pelo docente Marco Mazzarotto, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Curitiba.
Nascida em São Gonçalo e hoje residente em Curitiba, Nayany cresceu na periferia e transformou suas vivências em inspiração. “Morar a maior parte da vida na periferia me fez perceber o quão desafiador é buscar oportunidades em ambientes com poucos recursos. Essa experiência pessoal me motivou a usar o design como ferramenta para dar voz e valorizar os artistas de São Gonçalo”, afirma.
A publicação amplifica vozes periféricas, questiona estereótipos e valoriza a arte local como parte essencial do design contemporâneo. O projeto editorial conecta o design gráfico à arte urbana e às questões sociais que atravessam o território, com a apresentação de cinco artistas locais: Larissa Gomes, Layla Werneck, Mathaus Mattos, MEL e Siri do Muro.
“Esse reconhecimento mostra que a arte e o design produzidos nas periferias têm potência e relevância não só local, mas também internacional”, pontua Nayany, emocionada com a premiação. “A gente cresce achando que esse tipo de coisa nunca vai acontecer com a gente, principalmente vindo da periferia, onde prêmios internacionais parecem distantes demais da nossa realidade. Ainda nem caiu totalmente a ficha.”
“Mas posso dizer com certeza, é possível sonhar, e é preciso sonhar alto, porque a gente pode, sim, alcançar lugares que antes pareciam inimagináveis. Ver que o propósito de dar visibilidade à arte e ao design das periferias está se tornando realidade, e perceber que narrativas locais têm potência global, me deixam muito feliz”, conclui.
Jogo de tabuleiro – Rua das Crianças Corajosas
Criado por Jésia Vunschel Gualter, o jogo de tabuleiro é voltado a profissionais da educação e da psicologia, oferecendo uma ferramenta lúdica e segura para abordar temas delicados como abuso sexual infantil e orientação corporal. O projeto foi desenvolvido como TCC em Design pelo Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul), em Pelotas (RS), sob orientação da professora Mariana Piccoli.
Indicado para crianças a partir de 4 anos, o jogo utiliza cartas com situações fictícias baseadas em casos reais para ajudar no reconhecimento de limites corporais e no fortalecimento da autonomia e da expressão infantil diante de temas sensíveis. Embora tenha sido criado a partir da realidade brasileira, o projeto tem potencial de aplicação global, especialmente por sua abordagem acolhedora e adaptável.
“Esse projeto nasceu com um propósito: proteger e orientar crianças com afeto, coragem e informação”, afirma Jésia. Segundo ela, o reconhecimento internacional pelo iF Design Student Award despertou o interesse de educadores e profissionais da saúde, que passaram a procurar pelo jogo. “Quando eu voltar da viagem para Bilbao, meu foco será viabilizar a produção de mais jogos, para que ele possa chegar a escolas e profissionais das áreas da saúde e da psicologia”, disse.
Alfabeto Libergráfico
O projeto do designer Fabrício Luiz Silveira Teixeira, produzido como TCC da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), em Belo Horizonte, é um alfabeto visual inspirado na arquitetura do Circuito Liberdade, na capital mineira. A partir de pesquisas sobre edifícios ecléticos, o projeto traduz elementos arquitetônicos em letras autênticas, resgatando a herança gráfica local. A iniciativa inclui também um guia interativo que convida o público a redescobrir os espaços históricos da cidade por meio de uma nova linguagem visual.
Segundo Fabrício, a ideia do projeto nasceu da combinação entre suas paixões por arquitetura e tipografia. “Antes mesmo de entrar na faculdade, eu já era muito envolvido com o desenho de letras, especialmente em balões de festa. Trabalhei muito tempo com lettering nesses balões, o que aprimorou meu olhar para a tipografia. Meu sonho inicial era cursar arquitetura, mas acabei entrando em design, e hoje sou completamente apaixonado pela área. O TCC foi a junção de tudo que eu mais gosto: a cidade, a arquitetura e a tipografia”, conta. O trabalho foi realizado sob orientação do professor Sérgio Antônio Silva.
Sobre o reconhecimento internacional, Fabrício se diz emocionado: “Sempre acreditei no meu projeto, mas agora ele está sendo validado por designers renomados do mundo inteiro. É mais do que uma conquista pessoal — é também um reconhecimento para Belo Horizonte, minha cidade, que tem uma cena criativa riquíssima. Ver minha cidade sendo representada e valorizada lá fora é muito gratificante.”
Ele finaliza com uma reflexão sobre o momento atual. “A gente vive num tempo muito acelerado, cheio de telas, algoritmos e inteligência artificial. Ser reconhecido por um projeto que propõe um olhar mais atento, mais contemplativo, só reforça que esse caminho criativo e desacelerado tem valor. Me dá ainda mais vontade de continuar produzindo com esse olhar sensível”, conclui.
Sobre o iF Design Student Award
Promovido pela iF Design Foundation, o prêmio internacional reconhece projetos estudantis que propõem soluções criativas para os desafios globais. Os critérios incluem inovação, impacto social, relevância e viabilidade. Mais do que celebrar talentos, o prêmio estimula a reflexão crítica e o uso responsável do design.
